Eu quero deixar com você uma simples e singela verdade.
Não há caminho para a vida exceto pela morte.
Não há caminho para o poder exceto por meio da fraqueza e quebrantamento.
Não há caminho para a plenitude exceto por meio do esvaziar.
Não há caminho para o pleno frutificar exceto por meio do podar.
Não há caminho para a exaltação exceto por meio da humilhação.
Não há caminho para o trono exceto se sua vida for lançada por terra.
Não há caminho para conhecer a glória de Deus em plenitude exceto por meio da comunhão de seus sofrimentos.
A chave verdadeira para a vida transbordante, para a vida mais abundante, a vida de ressurreição, não é quanto eu vivo, mas quanto eu morro.
O problema não é como viver a vida cristã; o problema é como morrer.
Se você tiver o segredo de morrer com Cristo, você não terá de aborrecer a mente sobre como viver a vida cristã.
Lance Lambert

MORRER PARA VIVER

Por: Humberto Xavier Rodrigues

No jardim do Éden havia duas árvores: a árvore da Vida e a árvore do conhecimento do bem e do mal. O homem (Adão) comeu o fruto da última, perdendo assim o direito à primeira. Uma vez que todos os homens são descendentes de Adão, todos herdam a mesma natureza que Adão adquiriu na queda: Portanto, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens por isso que todos pecaram. Romanos 5:12.
Portanto, todas as pessoas que nascem neste mundo, nascem desprovidas da Vida Divina – espiritualmente mortas. A vida que herdamos, então, é "A vida "natural" ou o "velho homem" caracterizado pela morte e por uma falta absoluta de comunhão com Deus. Isso ficou claro quando o nosso Senhor Jesus veio a este mundo: Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens. E a luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam. João 1:4-5.
O homem nem sequer podia compreender esta Vida. Porque as "coisas de Deus só se discernem espiritualmente". Na realidade, o homem precisa de uma nova vida em Cristo, para discernir os desígnios de Deus. Uma vida completamente distinta, isto é, uma vida "de cima": Quem do imundo tirará o puro? Ninguém. Jó 14:4. Nada de bom se pode tirar da vida "natural". Por esta razão, o nosso Senhor disse: necessário vos é nascer de novo.
A vida natural não pode por si mesma ser enobrecida e qualificada para compreender as coisas espirituais e, ganhar comunhão com Deus. Por outro lado, a Vida divina não poderá jamais ser arruinada, ocasionando a perda dessa plena comunhão.
Esta nova Vida só pode ser dada em virtude da elevação do nosso Senhor Jesus na cruz. E eu, quando for levantado da terra, todos atrairei a mim. João 12:32 Não há outro meio pelo qual os homens devam ser salvos. A natureza adâmica que herdamos geneticamente é verdadeiramente incorrigível, indigna, irreparável, imutável e incurável. A maneira de Deus tratar com essa natureza é crucificando-a.
Ele (Adão) não foi o "originador" do pecado, "pois o diabo peca desde o princípio". Mas, o pecado na humanidade foi introduzido em Adão pela sua desobediência. O pecado, então, teve sua origem em Adão, pelo fato dele ser o representante de toda a raça humana, o cabeça federal, por isso, todos os seus descendentes nascem mortos, isto é, sem a Vida Divina. A morte espiritual e também a morte física, a princípio, não eram natural à constituição humana, mas, vieram a existir em conseqüência penal do pecado.
Depois que Deus criou todas as coisas, o homem caiu e, porque o homem pecou, toda a terra foi mergulhada em profundas trevas. Toda a criação passou a viver sob a servidão da corrupção e da vaidade. Quando o nosso Senhor Jesus, que é a plenitude de Deus, veio a este mundo e morreu na cruz, Ele reconciliou não somente a humanidade, mas todas as coisas.
Todas as coisas haviam se desintegrado, caído no caos, perdido seu propósito, mas o Senhor Jesus trará na plenitude dos tempos, tudo de volta para a harmonia, para o significado e propósito original antes da queda: De tornar a congregar em Cristo todas as coisas, na dispensação da plenitude dos tempos, tanto as que estão nos céus como as que estão na terra. Efésios 1:10.
Porque, da mesma forma que o pecado de Adão trouxe o caos e a base de nossa condenação, a morte de Cristo trouxe de volta a reconciliação com Deus e o fundamento de nossa justificação. Um só pecado de Adão foi suficiente para levar a raça à ruína, mas a obediência de Cristo conferiu gratuitamente a justiça a todo aquele que crer. E não foi assim o dom como a ofensa, por um só que pecou. Porque o juízo veio de uma só ofensa, na verdade, para condenação, mas o dom gratuito veio de muitas ofensas para justificação. Romanos 5:16.
Pois, por causa de um só homem o julgamento veio sobre todos os homens, mas a livre dádiva levou em conta muitas transgressões - todas incluídas num só veredicto de justificação. Esta é a riqueza da graça de Deus que não apenas inverte nossa condenação em Adão mas, também, nos torna justos porque Cristo satisfez completamente as exigências da justiça divina em nosso favor.
O que, então, significa "necessário vos é nascer de novo"? Na visão de Deus, o velho homem está totalmente corrompido. De acordo com a Palavra de Deus, o velho homem não pode ser curado, reformado ou melhorado. Não há outra maneira senão crucifica-lo: Mas o SENHOR dos Exércitos revelou-se aos meus ouvidos, dizendo: Certamente esta maldade não vos será expiada até que morrais, diz o Senhor DEUS dos Exércitos. Isaías 22:14. A vida humana é muito preciosa para Deus, "a alma do homem vale muito, mais que todas as riquezas deste mundo".
Pode-se sofrer a perda de tudo, menos da vida eterna. Nosso velho homem por mais elegante que seja precisa morrer. "A velha cruz é um símbolo de morte, Ela representa o fim repentino e violento de um ser humano. O homem, na época romana, que tomava a sua cruz e seguia pela estrada se despedia de seus amigos. Ele não mais voltava. Ele estava indo para o seu fim. A cruz não fazia acordos, não modificava nem poupava nada; ela acabava completamente com o homem, de uma vez por todas. Não tentava manter bons termos com sua vítima. Golpeava-a cruel e duramente e quando terminava seu trabalho o homem já não existia". W. A Tozer.
"Nascer de novo", significa ser substituído. O velho homem precisa dar lugar ao novo homem. A morte do velho homem é o último e o mais importante passo. A morte do velho homem destranca a porta da vida: Ou não sabeis que todos quantos fomos batizados em Jesus Cristo fomos batizados na sua morte? De sorte que fomos sepultados com ele pelo batismo na morte; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos, pela glória do Pai, assim andemos nós também em novidade de vida. Porque, se fomos plantados juntamente com ele na semelhança da sua morte, também o seremos na da sua ressurreição. Romanos 6:3-5.
Todos os que morreram em Cristo ressuscitaram com Cristo. Este ressuscitar com Cristo é uma ressurreição para a nova vida à semelhança da ressurreição de Cristo. Morrer com Cristo é, portanto, morrer para o pecado e ressuscitar com Ele para a vida nova. A nossa nova Vida em Cristo é provada pelo fato de que a identificação com Ele na semelhança da Sua morte é necessariamente seguida pela identificação com Ele na semelhança da Sua ressurreição.
A compreensão desta argumentação nos leva a reconhecer que o "nosso velho homem" não vive mais. O apóstolo Paulo fala de um ato completo, e não de um processo. O novo nascido é necessariamente o objeto de uma renovação progressiva.
O processo de renovação começa logo após a experiência de morte. Deus não renova o velho homem. O velho homem tem que passar pela cruz. A santificação sem a morte do velho homem, é o mesmo que tomar um carvão e tentar lavá-lo ou purifica-lo. Portanto, se torna imprescindível a morte do velho homem. Assim também vós considerai-vos como mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus, nosso Senhor. Romanos 6:11.
A partir da revelação da morte, a morte do velho homem, o cristão passa a "conformar-se" progressivamente com a morte de Cristo; o cristão aprende a andar no caminho da cruz em todos os detalhes de sua vida. Conformando-se com a morte e compartilhando do sofrimento de Cristo: Para conhecê-lo, e à virtude da sua ressurreição, e à comunicação de suas aflições, sendo feito conforme à sua morte. Filipenses 3:10.
A palavra "considerar" é um ato de fé, que tem como ponto de apóio a palavra de Deus. Então, considerar significa tomar posse daquilo que Deus já fez em nosso favor, em Cristo Jesus. Isto significa que a morte do Senhor Jesus Cristo é a morte do nosso velho homem. Isso é um fato, um fato já consumado. Aos olhos de Deus, o velho homem já foi crucificado. Portanto, "considerai-vos mortos, mas vivos para Deus".
Não só estamos vivos para Senhor, mas sob o seu governo. Antes, o velho homem era servo do pecado. Agora, como novas criaturas, servos do nosso Senhor Jesus Cristo. Porque foi para isto que morreu Cristo, e ressurgiu, e tornou a viver, para ser Senhor, tanto dos mortos, como dos vivos. Romanos 14:9. Os que nasceram de novo pertencem a Cristo porque foram comprados pelo Seu sangue.
Cristo morreu e ressuscitou para obter o senhorio, um senhorio que pertence à esfera da obra da redenção. Como mediador triunfante Ele foi investido de soberania absoluta tanto sobre mortos quanto vivos. E, aquele que tem Jesus Cristo como Senhor, pode descansar, ainda que o "vale" seja profundo. O caminho da cruz é o único caminho para o crescimento espiritual.
Deus, pelas Suas misericórdias, nos deu o Seu Filho e Nele temos tudo para prosseguirmos neste caminhada cristã, sob o Seu olhar gracioso e amoroso. Que nossos olhos sejam abertos para desfrutarmos da comunhão com o nosso Senhor Jesus! Fiel é Deus, pelo qual fostes chamados para a comunhão de seu Filho Jesus Cristo nosso Senhor. Amém.

CRENTE OU SANTO?

Por: Glenio Fonseca Paranaguá

À igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus, chamados para ser santos, com todos os que em todo lugar invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso. 1Coríntios 1:2
Crente é todo o que crê. Há muita gente que é crente em muitas coisas. E há muitos que são crentes em Deus, que jamais foram santos. Os demônios, segundo a Bíblia, são crentes: Tu crês que Deus é um só? Fazes bem; os demônios também o crêem, e estremecem. Tiago 2:19. Está claro que ser crente não diz muito. Houve uma época na história da igreja, em que esta palavra estava relacionada com as pessoas que tinham uma experiência real com Deus, mas agora, ela perdeu por completo as evidências daquela acepção. Qualquer pessoa que faz parte de uma igreja qualquer, pode se denominar crente. E de fato, ser crente não significa muito. Ora, estando Jesus em Jerusalém pela festa da Páscoa, muitos, vendo os sinais que ele fazia, creram no seu nome. Mas o próprio Jesus não se confiava a eles, porque os conhecia a todos, e não necessitava de que alguém lhe desse testemunho do homem, pois ele bem sabia o que era a natureza humana. João 2:23-25. Estes aqui eram crentes em Jesus a partir dos sinais que haviam visto. Eles ficaram crentes em virtude dos fatos miraculosos. Há muitos crentes deste naipe. E creu até o próprio Simão e, sendo batizado, ficou de contínuo com Filipe; e admirava-se, vendo os sinais e os grandes milagres que se faziam. Atos 8:13. Este é um típico crente que muda de sistema a partir de seu convencimento interesseiro. Desde o momento que fica certificado das vantagens lucrativas acaba concluindo em conformidade com os proveitos que possa usufruir. É claro que esta crença sempre tem um tempo delimitado em virtude dos fracassos.
Simão, o mágico, ficou crente por causa dos seus objetivos econômicos. Hoje, muitos se tornam crentes em virtude de algum benefício particular que merece sua atenção especial. Há alguns que se credenciam ao papel de crente porque buscam uma cura, outros andam atrás das bênçãos da prosperidade. Este é um terreno muito minado. Porfiai por entrar pela porta estreita; porque eu vos digo que muitos procurarão entrar, e não poderão. Quando o dono da casa se tiver levantado e cerrado a porta, e vós começardes, de fora, a bater, dizendo: Senhor, abre-nos; e ele vos responder: Não sei donde vós sois; então começareis a dizer: Comemos e bebemos na tua presença, e tu ensinas nas nossas ruas; e ele vos responderá: Não sei donde sois; apartai-vos de mim, vós todos os que praticais a iniquidade. Lucas 13:24-27. Não basta confessar o nome do Senhor e ser membro de uma igreja cristã; é preciso passar por uma experiência radical de novo nascimento, que implica na prática viva da santidade interna. O cristão é chamado para viver uma vida sobrenatural, e a ele foi dado o poder para viver essa vida. Ser cristão de fato não é ser mero crente religioso, mas ser um santo de verdade.
Muita gente ridiculariza a identificação cristã de santo. Numa igreja solicitamos que as pessoas santas levantassem as mãos. Ninguém se apresentou. Todos ali eram crentes, mas ninguém queria ser confundido com um santo. Mas Deus nos chamou para sermos santos. Num sentido, os santos do Senhor são um povo à parte. Santo significa separado. Deus em Cristo tem separado o seu povo de um modo peculiar. O Salvador Jesus Cristo se deu a si mesmo por nós, para nos remir de toda a iniqüidade, e purificar para si um povo todo seu, zeloso de boas obras. Tito 2:14. Este povo separado é um povo santo, e sem santidade ninguém poderá ver o Senhor.
Por outro lado, santo significa único. A singularidade de uma vida santa implica na sua identidade com a vida de Cristo. O santo é uma pessoa que foi salva completamente da pena do pecado, pela obra maravilhosa de Cristo na cruz, e que está sendo salvo do poder do pecado pela vida soberana de Cristo no seu interior. São réplicas individuais e únicas da vida de Cristo. São retratos ambulantes de Cristo, por isso, são chamados de cristãos. Deus nos salvou para nos tornar santos, não felizes. Algumas experiências podem não contribuir para nossa felicidade, mas tudo pode contribuir para nossa santidade. Ninguém pode ser salvo sem ser feito santo. Todo salvo é santo, e todo santo é salvo.
A santidade não deve ser vista em termos de êxtase do homem, mas em termos do caráter de Cristo revelado no viver diário. Não é uma perfeição comportamental de acordo com os padrões estabelecidos pela lei, mas a vida dependente totalmente da graça de Cristo. O santo não é alguém impecável ou perfeito em sua conduta, mas alguém que foi perdoado por inteiro na pessoa de Cristo e que vive em total dependência na suficiência de Cristo. O santo é aquele que só confia em Cristo para sua salvação; só depende de Cristo para sua edificação e só espera em Cristo para sua completa transformação. O segredo da santidade é estar ocupado de coração com o próprio Cristo. Se Cristo vive em mim, a plenitude de sua vida expressa no meu coração, demonstra a realidade íntima da santidade genuína.
A salvação cristã envolve a morte do velho homem, servo do pecado, juntamente com Cristo. Para que isto se tornasse realidade, Cristo nos atraiu a si mesmo quando foi levantado na cruz, incluindo-nos em seu corpo santo a fim de nos levar a morrer com ele. Mortos no corpo de Jesus Cristo crucificado, somos recebidos como filhos de Deus, mediante a vida de Cristo que nos é dada na ressurreição.
Cristo vivendo pela fé em nosso ser, é toda a profundidade da santidade cristã. Assim, a santidade de Cristo não é uma pregação para impressionar as pessoas, mas a própria vida dele refletindo o seu valor. O frasco cheio de perfume revela a sua qualidade quando é aberto ao olfato. Fica patente a todos a reputação deste aroma pelo seu fixador. O cheiro de Cristo perdura na qualidade da vida.
Jacó ao trapacear o seu pai Isaque, usou as roupas de seu irmão Esaú para revelar o odor característico daquele homem do campo. Sua tática foi astuta. Mas a voz deixou marcas inconfundíveis. A hipocrisia aparenta uma falsa piedade que consegue iludir muita gente cega, como Isaque. Afirmam que conhecem a Deus, mas pelas suas obras o negam, sendo abomináveis, e desobedientes, e réprobos para toda boa obra. Tendo aparência de piedade, mas negando-lhe o poder. Tito 1:16, 2Timóteo 3:5a.
O projeto de Deus visa transformar o homem velho, natureza perversa, em um novo homem, criado em Cristo Jesus, em perfeita santidade, para ser santo. De acordo com as Escrituras, é impossível ser justificado pela fé e não experimentar o começo da verdadeira santificação, porque a vida espiritual transmitida pelo Espírito no ato da regeneração (que introduz o novo poder para crer) tem afinidade moral com o caráter de Deus e contém em si o embrião de toda santidade. Se Deus justificasse uma pessoa e não a tornasse santa, estaria justificando uma pessoa que não poderia ser glorificada. Mas, se Cristo nos justifica pela sua obra redentora, com certeza que ele nos santifica por sua vida operante em nossos corações. Não há maneira pela qual, por nós mesmos, possamos gerar salvação. Nossa salvação é Cristo. Não há maneira pela qual possamos ser bons. Nossa bondade é Cristo. Não há maneira pela qual possamos ser santos. Nossa santidade é Cristo. Está escrito: Sede santos, porque eu sou santo. 1Pedro 1:16.

A MALDIÇÃO DO EVANGELHO GENÉRICO

Por: Alexandre Chaves

Não anulo a graça de Deus; pois, se a justiça é mediante a lei, segue-se que Cristo morreu em vão. Gálatas 2:21
Quando olhamos para o texto de Paulo na sua carta aos Gálatas, podemos identificar duas realidades completamente distintas, coexistindo numa situação onde uma persegue e a outra é perseguida. "Mas, como então o que nasceu segundo a carne perseguia o que nasceu segundo o Espírito, assim é também agora." Gálatas 4:29. Esta perseguição se dá justamente pelo fato daqueles que são contados como filhos da escrava não admitirem a liberdade dos filhos de Deus em Cristo Jesus. E também, não conseguem usufruir da liberdade dos filhos de Deus, justamente por não admitirem que são escravos.
Escravos da glória humana, da opinião alheia, do ego, do pecado, do sucesso pessoal, e por não se entenderem assim, escravos, não conseguem se arrepender e clamar a Deus misericórdia para que possam ser libertos. Não admitem que precisam morrer e nascer de novo, pois como Nicodemos são pessoas que possuem pedigree, e um conceito elevadíssimo de si mesmo, são apegadas ao seu padrão moral e extremamente meritosas.
Podem até admitir que são pecadores, pois isso faz parte do clichê religioso, mas não pecadores como os demais. "... Ó Deus graças te dou porque não sou como os demais homens..." Lucas 18:11. São pecadores, mas como fazem muitas obras externas de justiça humana, criam um mecanismo de compensação, baseado na justiça própria, que para Deus não passa de trapo de imundícia, como esta escrito: "Mas todos nós somos como o imundo, e todos os nossos atos de justiça, como trapo de imundícia; todos nós murchamos como a folha, e as nossa iniqüidades como vento nos arrebatam." Isaías 64:6.
Para as pessoas que tiveram a revelação dada pelo Espírito, de que são como a descrição feita pelo profeta Isaías, não existe outro lugar no universo que elas desejam estar, a não ser na graça de Deus manifestada em Cristo, não existe outro caminho a não ser Cristo e não existe outro motivo pelo qual eles possam ser aceitos por Deus senão o sangue do Cordeiro Santo que foi vertido na cruz que os purifica de todo o pecado.
Os que se vêem de outra maneira, nunca chegam ao arrependimento para serem libertos por Cristo, a ponto de clamarem Sua graça e misericórdia, aliás, a graça é muito mal compreendida por eles, visto que suas qualidades os impede de aceitá-la de maneira plena. A graça é para estes, um opcional, como um carro que você escolhe com ar ou sem ar condicionado, ou seja, é algo que você pode usar para lhe dar algum conforto, mas na falta deste opcional dá para viver muito bem sem. Além do que, a graça não teria grande valor se não fossem suas qualidades e habilidades pessoais, sem as quais o reino de Deus estaria em grandes apuros.
Com relação à misericórdia, são como aquele homem descrito em Mateus capítulo 18, gosta dela para si, mas são resistentes em usá-la para o próximo. "E o senhor daquele servo, compadecendo-se, mandou-o embora e perdoou-lhe a divida. Saindo, porém aquele servo, encontrou um dos seus conservos que lhe devia cem denários; e agarrando-o, o sufocava, dizendo: Paga-me o que me deves." Mateus 18: 27 e 28. Praticam a leitura das escrituras, fazem orações, jejuns, assim como o fariseu no templo descrito em Lucas 18 , mas não conseguem admitir a verdade a respeito de si mesmos, e nem crer na suficiência de Cristo, são aqueles "que aprendem sempre, mas nunca podem chegar ao conhecimento da verdade". 2 Timóteo 3:7 Portanto não podem ser libertos.
Sabemos que nada é tão difícil para a mente humana compreender, quanto o conceito de graça. Vivemos numa sociedade sem graça, onde a coisa mais digna e valorosa que existe é o mérito. As pessoas podem até concordarem em receber algo que não lhes custou nada, como meio de obter vantagem ou ser suprido em uma necessidade. Porém isto jamais terá o mesmo valor de algo que ela tenha conquistado por meio de seus esforços e méritos.
É este o motivo pelo qual a graça é tão atacada, ela ofende o mérito, e nos coloca numa situação de falência total e dependência de Deus. E isto, para o ser humano caído, com seu ego estratosférico, com seu desejo de ser maior do que os demais, ser melhor do que todos e de ser tido como extremamente distinto e capaz, é indesejável, pois implica em admitir sua total falência e fraqueza diante de si e diante de Deus.
Além do que, este estado em que se encontra, o faz querer ser como Deus, porém maior, melhor e mais distinto e capaz do que Ele. "...Como Deus sereis..." Gênesis 3:5. Quando falamos da sociedade humana caída, ou da maneira de ser do mundo, este, o mundo, não vê nada de mal nisto. Pois nas relações sociais, funciona assim, nela você tem que ser o melhor, o mais capaz, o número 1 em tudo o que faz. O problema se dá, quando este conceito vem fazer parte das ações e relações da igreja, pois o mundo, como sistema, e o reino de Deus, são duas coisas antagônicas.
Por serem duas realidades contrárias, deu-se o fato de terem crucificado a Cristo, pois Ele, ao viver a realidade do reino de Deus, de misericórdia e graça, expunha esta estrutura maligna do mundo. Sendo assim, fica incompatível aos discípulos de Cristo, viver a realidade do reino de Deus hoje, baseado na graça e na misericórdia, sem ser odiado pelo mundo, por isso as escrituras nos dizem: "Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que vós me odiou a mim. Se fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu. Mas como não sois do mundo,antes, dele vos escolhi, é por isto que o mundo vos odeia." João 15:18 e 19.
Como pode então, estas duas realidades tão distintas, coexistirem dentro de uma só estrutura? Poderíamos evocar muitas razões externas para explicar este fenômeno, como por exemplo, o fato da igreja de Cristo ser um organismo inclusivo, aberto a todos. Mas a realidade que proporciona isto acontecer é interna. O mundo não é mau em si mesmo, "Viu Deus tudo o que tinha feito, e que era muito bom..." Gênesis 1:31ª.
O problema é o pecado que entrou no homem, e por intermédio do homem entrou no mundo. Esta estrutura pecadora interna que nos leva a querer ser como Deus, e a nos ofender com sua graça, a não reconhecer que somos criaturas dependentes e carentes da graça e misericórdia divina. Que nos leva a competir entre nós, para saber quem será o maior, e somos então confrontados pelo reino de Deus que foi chego a nós na pessoa de Cristo Jesus, aquele que tem todo o poder e glória, mas que se esvazia para ser servos de todos, e nos ensina, "O maior dentre vós, será vosso servo". Mateus 23:11. Este é o nosso problema, o nosso pecado, o desejo de querer ser grande.
Paulo logo no começo de sua carta demonstra toda a sua perplexidade, " Admira-me que tão depressa estejais passando daquele que vos chamou na graça de Cristo para outro evangelho." Gálatas 1:6. Surge então, diante desta afirmação de Paulo, a maneira pela qual torna-se possível a prática da coexistência entre essas duas realidades acima citadas, ainda que em eterna oposição, ou seja, a criação de outro evangelho.Um evangelho híbrido, que mistura velha aliança e nova aliança, onde Cristo e sua obra são insuficientes, onde a cruz é um escândalo e a graça é apenas uma palavra.
Surge por meio dos halterofilistas da fé, daqueles que se julgam super crentes, os quais não são como o apóstolo Paulo que foi ensinado por Deus a se gloriar na sua fraqueza para que nele habitasse o poder de Deus (2 Coríntios 12). Para estes amantes da religião, o mais importante é a doutrina, mas para o evangelho trazido por Cristo, o mais importante é a vida e as pessoas (Marcos 2:27). Para os defensores da religião, a existência é gasta a partir do que é certo ou errado, vivem ainda pela árvore do conhecimento do bem e do mal. Mas para os que foram libertos em Cristo, para aqueles que morreram em Cristo, a única vida que importa é aquela que brota da comunhão com o Cristo ressurreto.
Este outro evangelho surge com a desculpa de que, aqueles que foram libertos em Cristo não saberão viver em liberdade, por isso se faz necessário a escravidão da lei. Desconhecem o amor incondicional de Deus, por isso tentam comprá-lo, desconfiam daquele que começou a boa obra em nós, julgando que Ele não é fiel para completá-la (Filipenses 1: 6), e que aqueles que foram alvos da graça a usarão para pecar. Os que assim fazem, desconhecem a graça, a já não resta mais sacrifício pelo pecado (Hebreus 10: 26). Mas para aqueles que morreram em Cristo e que ressuscitaram em Cristo para uma nova vida, que libertos do pecado e da lei, foram feitos escravos da justiça (Romanos 6:17 e 18) as escrituras nos ensinam: "Para a liberdade foi que Cristo nos libertou. Permanecei, pois, firmes e não submetais, de novo, a julgo de escravidão. Eu, Paulo, vos digo que, se vos deixardes circuncidar, Cristo de nada vos aproveitará. De novo testifico a todo homem que se deixa circuncidar que esta obrigado a guardar toda lei. De Cristo vos desligastes,vós que procurais justificar-vos na lei; da graça decaístes." Gálatas 5:1-4.